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Projeto Venom: A Ciência Brasileira na Busca por Novas Armas Contra as Superbactérias

Nos últimos anos, o avanço da resistência bacteriana tem representado um dos maiores desafios da medicina moderna. O uso indiscriminado de antibióticos tem selecionado microrganismos cada vez mais resistentes, tornando infecções comuns potencialmente fatais. Diante desse cenário alarmante, um grupo de jovens cientistas do Colégio Militar de Brasília (CMB) iniciou uma jornada desafiadora para explorar uma solução alternativa: a fagoterapia. Assim nasceu o Projeto Venom, que investiga o potencial de bacteriófagos como agentes terapêuticos no combate a bactérias multirresistentes.

 

A Concepção do Projeto: Uma Nova Perspectiva Científica                

O Projeto Venom surgiu da necessidade de encontrar alternativas ao uso tradicional de antibióticos. Com o apoio dos professores orientadores profª SC Lorena Derengowski, Tenente Gustavo Leite e prof Hugo Paes (UnB), os alunos Paulo Victor Mascarenhas, Fernanda Wambier e Mariana Lopes iniciaram uma investigação sobre os bacteriófagos, vírus que infectam e destroem bactérias específicas, podendo representar uma arma poderosa contra patógenos resistentes. O primeiro passo do projeto foi verificar o tamanho do problema que estávamos lidando. Ou seja, verificar a eficácia dos antibióticos convencionais ao emergente problema de infecções bacterianas e, a partir disso, entender como os vírus bacteriófagos poderiam ser utilizados e suas aplicações na medicina.

Identificação da Grande Vilã: Klebsiella pneumoniae

Com uma base teórica consolidada, os pesquisadores voltaram-se inicialmente à identificação molecular do patógeno-alvo. Diante da verificação de diversas bactérias multirresistentes presentes no Hospital Universitário de Brasília, a vilã escolhida como foco da pesquisa foi a bactéria Klebsiella pneumoniae, classificada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como um patógeno crítico prioritário. Conhecida por sua resistência a múltiplos antibióticos de última geração, essa bactéria é uma das principais responsáveis por infecções hospitalares graves, tornando essencial a busca por alternativas terapêuticas eficazes.

 

 

Prospecção de Fagos: A Caça aos Vírus do Bem

O próximo desafio do Projeto Venom foi a prospecção e isolamento de bacteriófagos líticos, capazes de infectar e destruir a K. pneumoniae. Para isso, recebemos amostras de ambientes propícios à presença de fagos, como filtrados de esgotos hospitalares, locais ricos em bactérias-alvo. Os resultados foram animadores: os alunos conseguiram isolar diferentes fagos capazes de combater esta super bactéria.

Após o isolamento, os fagos foram submetidos a uma série de testes laboratoriais para avaliar sua eficácia contra isolados clínicos de K. pneumoniae. Diante de diversos resultados, um dos fagos se destacou dos demais, justamente por sua eficácia contra maior parte dos isolados testados. Por outro lado, outros fagos mostravam-se menos eficazes, reforçando a necessidade de um estudo contínuo para aprimorar a seleção dos agentes terapêuticos.

Com a identificação de nosso super fago, chegava a hora de explorar todo seu potencial e fazer verificações mais detalhadas sobre seu comportamento, levando os jovens cientistas a explorarem sua nova arma contra as bactérias multirresistentes. Com isso, foram realizados experimentos para determinar o tempo de adsorção e eclipse dos fagos, informações cruciais para entender sua capacidade de replicação e infecção bacteriana. Essas descobertas são essenciais para a otimização da fagoterapia. Ainda, buscando expandir a pesquisa, a equipe testou os fagos selecionados em um modelo de infecção alternativo in vivo, utilizando larvas de Galleria mellonella. Os resultados foram animadores: as larvas tratadas com os fagos apresentaram maior taxa de sobrevivência, evidenciando o potencial terapêutico desses vírus no combate a infecções por K. pneumoniae. Além disso, a aplicação dos fagos isoladamente não demonstrou efeitos adversos, um indicativo positivo para o desenvolvimento de futuros tratamentos. Adicionalmente, esses fagos mostraram-se efetivos no combate a biofilmes bacterianos in vitro, comunidades microbianas amplamente resistentes a ação do sistema imunológico e a antibióticos convencionais, reforçando o potencial terapêutico dos bacteriófagos.

Avançando na Pesquisa: Parcerias Estratégicas

Com o avanço dos estudos, o Projeto Venom ampliou suas colaborações, estabelecendo uma parceria com a profª Dra. Ana Cristina Gales, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), referência internacional na área de resistência bacteriana. Essa parceria proporcionou a inclusão de novas variantes bacterianas aos testes, permitindo uma avaliação ainda mais ampla da eficácia dos fagos isolados.

Além disso, os estudantes tiveram a oportunidade de aprofundar seus conhecimentos sobre microscopia eletrônica, analisando a morfologia de seus fagos em colaboração com o grupo da profª Dra. Sônia Bao do Laboratório de Microscopia Eletrônica da Universidade de Brasília (UnB).

A dedicação dos alunos e a relevância científica do Projeto Venom já começaram a render frutos. O grupo já acumula algumas conquistas, como menção honrosa no IV Simpósio de Biologia Microbiana da UnB, destaque de melhor trabalho de iniciação científica no Congresso de Iniciação Cientifica do Distrito Federal, prêmio Eureka Day e ainda garantiu sua vaga na FEBRACE 2025, a maior feira de ciências e engenharia do Brasil, onde apresentarão seus resultados para especialistas e entusiastas da ciência.

O Futuro do Projeto Venom

Com novos desafios pela frente, os pesquisadores seguem empenhados em expandir suas investigações. A próxima etapa envolve a visita técnica à Unifesp, onde poderão estreitar ainda mais os laços científicos com a equipe da Prof. Ana Gales, além de buscar aprimorar as aplicações dos fagos no combate às infecções hospitalares.

O Projeto Venom não apenas representa um avanço no estudo da fagoterapia, mas também reafirma o potencial da ciência jovem brasileira na busca por soluções inovadoras para desafios globais. O combate às superbactérias continua, e os jovens cientistas do CMB seguem determinados a fazer história no campo da microbiologia.

Acompanhe  - @projeto.venom

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